A autora inicia o texto levantando duas questões: Para quem pesquisamos e para quem escrevemos? Para tal, é feita uma comparação entre as características dos dois tipos de autores: os autores de textos literários (escritores) e os que se fazem autores de textos científicos (pesquisadores-autores).
Para a autora, o escritor escreve porque sente necessidade, precisa se expressar, por gostar, por “terapia”, para se satisfazer. Por outro lado, o pesquisador-autor tende a escrever porque é uma incumbência, um compromisso acadêmico, com o intuito de divulgar o conhecimento para o seu público: seus "pares", ou seja, os estudiosos/as da área. Nesse contexto, o escritor escreve como forma de estudo, enquanto o pesquisador-autor escreve sobre o resultado do seu estudo [pesquisa]. O escritor não escreve prioritariamente pela popularidade [muitos/as preferem não tê-la]. O pesquisador-autor, em contrapartida, acredita que quanto mais popular o seu texto [artigo, livro, capítulo, tese etc.], melhor é o trabalho científico e o seu reconhecimento na academia.
Diante desse cenário, o escritor tende a escrever para um público irrestrito, enquanto o pesquisador-autor escreve para publicar o conhecimento que produziu para outros pesquisadores, e não para o público em geral. No entanto, de acordo com a autora, as pesquisas devem servir como um objeto de intervenção para melhorar os problemas cotidianos.
Para escrever para este outro tipo de leitor, é necessário que o pesquisador-autor reorganize sua forma de produção textual. Contudo, há uma dificuldade do pesquisador–autor em escrever de forma compreensível ao leitor comum: o professor da escola. Para exemplificar isso, a autora apresenta as orientações da revista “Ciência Hoje”, que explicitam a necessidade de “regras” para que os pesquisadores-autores escrevam para um outro tipo de leitor, que não sejam seus pares.
Conclui-se ser importante que essas barreiras sejam superadas para que haja divulgação do conhecimento científico produzido para todos, e não somente aqueles presentes na academia.
Referência Bibliográfica:
SOARES, M. Para quem pesquisamos? Para quem escrevemos? In.: MOREIRA, A. F. et al (Orgs.). Para quem pesquisamos para quem escrevemos: o impasse dos intelectuais. São Paulo: Cortez, 2001. p. 65-90.